Seria o ättestupa uma prática real dos países escandinavos ou algo folclórico ou até mesmo inventado para uma produção cinematográfica, neste artigo abordo com mais profundidade sobre o que realmente teria sido o chamado “senicídio” que povoou o imaginário da Escandinávia em diversas épocas e os estudos e conclusões que se tem sobre este tema.
O Ättestupa: História, Ritual e Imaginário x Realidade
O termo ättestupa entrou em uso na Suécia no século XVII, inspirado na saga Gautreks da velha saga islandesa, que se passa em parte na região sueca de Götaland. A saga contém um episódio cômico conhecido como Dalafíflaþáttr ('a história dos tolos dos vales') em que uma família em particular é muito azarada, que opta pelo suícidio a ter de ver sua riqueza esvair-se em hospitalidade. Nesse conto, os membros da família sucídam-se pulando de um penhasco da qual a saga chama de Ættarstapi ou Ætternisstapi ("precipício de dinastia"), uma palavra que não ocorre em nenhum texto do nórdico antigo além desta saga (FRYXELL, pág.57, 1884).
A saga de Gautreks tornou-se conhecida na Suécia em 1664, quando uma edição e tradução sueca foi publicada por Olaus Verelius. Este parece ter inspirado antiquários suecos do século XVII ao século XIX a rotular vários penhascos com o nome ättestupa (NORSE, MAGIC, BELIEFS, 2021).
O linguista sueco Adolf Noreen começou a questionar o mito no final do século XIX, e agora é geralmente aceito entre a maioria dos pesquisadores que a prática de precipícios suicidas nunca existiu. Porém os topônimos que a saga de Gautreks inspirou, no entanto, continuam a existir na paisagem sueca (NORSE, MAGIC, BELIEFS, 2021).
O termo ättestupa continua a ser usado frequentemente, em contextos políticos, para referenciar o quão ruim pode ser um programa de seguridade social com financiamento insuficiente, especialmente para aposentados. Na década de 1960, o programa de rádio de comédia sueco Mosebacke Monarki introduziu satiricamente o ättestupa, abreviando para a sigla ÄTP, como uma alternativa ao ATP, uma pensão fornecida pelo Estado.
A série de comédia Norsemen de 2016 retrata um grupo de homens idosos relutantes em realizar o ritual. O filme de terror de 2019 Midsommar, de Ari Aster, usa o termo para descrever uma tradição fictícia em que membros de uma comunidade já idosos se jogam de um alto penhasco em um ritual de suicídio aos 72 anos (ZUCKERMAN, 2019).
Para Karl Bloomberg mestre de arqueologia pela universidade de Uppsala em sua tese Enfrentando o inevitável Usando a prática moderna de Döstädning para entender Ättestupa, há uma outra possibilidade de interpretação deste ritual:
“O Ättestupa tem sido uma prática contenciosa desde a tradução da saga de Gautreks. Este senicídio prática tem sido amplamente vista como uma paródia da cultura de Västergötland e tem recebido pouco atenção. Mas com o novo interesse na prática moderna de Limpeza da Morte[1], podemos finalmente entenda Ättestupa como uma tradição real. Compreendendo a colocação do fardo e as visões de suicídio, bem como a investigação do mundo material em torno do envelhecimento e da morte Ättestupa pode ser visto como o ancestral da Limpeza da Morte e, portanto, como uma janela para essa prática passada. De comparando essas duas práticas, também construímos uma estrutura de como as práticas modernas de morte podem ser acostumada a compreender a arqueologia do envelhecimento e além, por meio do uso de vários abordagens arqueológicas que levam em consideração diferentes fontes de conhecimento e as diferentes maneiras de abordar essas fontes”
(BLOOMBERG, pág.1, 2019)
Conclusão
O Ättestupa é um ritual que habita o imaginário de muitos escritores e roteiristas até hoje sua prática é citada em muitos poucos documentos históricos, e até o momento permanece como algo inêsistente, existindo apenas se visto pelo viés folclórico e espiritual como na perspectiva analisada pelo pesquisador Bloomberg, apesar de locais coexistirem com os relatos encontrados nas sagas, o ritual ainda não possui comprovação de que existiu na Pré- história escandinava e muito menos na Era Viking, as ideias para a existência do Ättestupa é de origem do processo de cristianização na Escandinávia cujo locais geograficamente poderiam ser atribuídos como cenários possivelmente reais dos eventos descritos nas estórias. Trata-se de um tema ainda muito pouco explorado, e que ganha cada vez mais visibilidade coma temática do Folk horror nos meios midiáticos.
[1] Também conhecida como limpeza sueca da morte, consiste em uma prática psicológica em que o individuo detém um controle maior sobre sua vida e a prepara-a para o futuro. Fazendo um balanço das coisas que realmente importam para você.
Fonte - BLOOMBERG, Karl. Facing the Inevitable Using the modern practice of Döstädning to understand Ättestupa, Uppsala Universitet, pág.1, 2019.
FRYXELL, Anders. The History of Sweeden. Translated from the original. vol.1, Book IV, Chapter. 1, pág. 57, 1884.
Fontes Online
NORSE, MAGIC AND BELIEFS. Ättestupa: The Norse Suicide for the Elderly. Myth or Real? 2021, Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=H7fLp2abbA8.
ZUCKERMAN, Esther. The Real Places, People, and Art That Inspired the Horrifying Village in 'Midsommar'. 2019, Disponível em: https://www.thrillist.com/entertainment/nation/midsommar-is-harga-real