No século V O Império Romano já não era o mesmo. O último Imperador Romano do ocidente, Rômulo Augusto, foi deposto pelo primeiro rei bárbaro da península itálica, Flávio Odoacro, no dia 4 de setembro do ano de 476, evento que faria a humanidade entrar em um novo período, conhecido como Idade Média, se inicia no ano de 476 com a queda da unidade imperial romana do ocidente, e se finaliza com a tomada de Constantinopla pelo Império Turco Otomano.
O dia 4 de Setembro de 476 d.C. marca o fim da hegemonia política e militar romana na Europa, quando o último imperador romano, Rômulo Augusto, foi deposto pelo primeiro rex “título usado pelos romanos para nomear o líder de tribos bárbaras” a península itálica; os historiadores não chegaram a um consenso sobre a tribo de onde vinha Odoacro, podendo este ter sido godo, turíngio ou hérulo. O fatídico dia pôs fim ao poderio da unidade militar e política do Império Romano do Ocidente na Europa que, em seu derradeiro fim, tinha um poder que abrangia apenas a própria península Itálica e tinha dificuldade em resistir as incursões de assentamentos e invasões germânicas.
Com isso, iniciou-se a saga dos reis bárbaros no território itálico, sendo o primeiro, Odoacro. Este tratou de colocar seu poder em cheque com a corte do Império Romano do Oriente em Constantinopla (atual Istambul), que reconheceu seu poder mas não o permitiu que se desfizesse completamente de seus laços com o império romano do oriente, de forma que o papa (nomenclatura utilizada para denominar o bispo de Roma) ainda seria escolhido pelo próprio Imperador do Oriente até a moeda de Carlos Magno, até a moeda imperial romana continuaria em circulação no Ocidente até o próprio advento deste.
Após o fim da hegemonia militar romana no ocidente, uma nova configuração política surgiu na Europa, uma que, contudo, ainda não aniquilaria a completa influência do imperador romano do oriente. Após alguns anos, o Imperador Justiniano daria início as suas reformas e campanhas militares para restaurar a unidade imperial nos territórios perdidos. Tais reformas só foram possíveis com o apoio de um de seus mais famigerados generais, Flavius Belisarius, e com um exército imperial que era, basicamente, composto por bárbaros de diversos territórios e diferentes bandos de mercenários. Conseguiu reconquistar parte do território perdido derrotando o Reino dos Vândalos no norte da África, o reino dos Ostrogodos e obtiveram o Sul da Hispânia, enquanto o norte ainda ficaria sob domínio do reino dos Visigodos até a invasão muçulmana.
Entretanto, seus domínios não perduraram por muito tempo. As campanhas militares de Justiniano tiveram êxito em recuperar parte dos domínios, porém a política não teve o mesmo destino. Entre o ano 568 e 570, tribos lombardas atacaram a Península Itálica e ocuparam muitas regiões da província, à exceção de Roma e Ravenna, que perduraram sob domínio imperial por um curto período. Mais acima do território Europeu, tribos bárbaras guerreavam pelo domínio político e supremacia territorial na Europa Central. Francos, alamanos, burgúndios, lombardos e visigodos lutavam, constantemente, entre si, até que, com o passar do tempo, apenas os Francos, na Gália, e os Visigodos, na Hispânia, prevaleceram. Os Saxões que ocuparam a Britânia dividiram a antiga província romana em diversos reinos, fazendo os últimos senhorios de herança romano que lá existiam recuar ao país de Gales.
Por volta do ano de 550, muitos reinos bárbaros adquiriram estabilidade na Europa e suas elites reforçaram suas presenças. Por um tempo firmariam seus domínios: adotaram o Cristianismo como religião e também o sistema de sucessão dos imperadores romanos do oriente, ou seja o hereditário.
Antes de prosseguir para o rumo que a Europa Central tomaria nos anos seguintes, é necessário citar a ascensão dos Califados Islâmicos, que surgiram a partir do século VII. O islamismo surge na Península Arábica: fundaram o Grande Califado Omíada que, através de seu primeiro líder e profeta Maomé e os Califas que o sucederiam, expandiriam as suas fronteiras com um grande exército que aumentava quanto maior seus domínios cresciam. Motivados pela sede de conquista e expansão, suas fronteiras não tiveram limites perante o reduzido Império Sassânida (Persas): passando pelo Magreb, conquistaram as províncias Romanas do Oriente e reduziram o reino dos Visigodos ao Reino das Astúrias no extremo norte da Península Ibérica, terminando suas fronteiras no Reino dos Francos ao sul dos Pirineus.
Após sucessivas investidas na Aquitânia e mais adentro da Gália (Atual França), os Árabes estavam cada vez mais próximos da Austrásia, onde reinava a dinastia dos Pipinidas, povo que tinha construído um riquíssimo patrimônio fundiário ao longo dos anos e estreitado seus laços com o papado romano e eram, inclusive, muito bem vistos e reconhecidos por este. Os Francos Pipinidas ao longo dos anos unificaram os territórios da Austráisa, Nêustria e Burgúndia na antiga Gália.
No ano de 732, a expansão Sarracena já estava muito avançada no território Gálico. O até então Major Domus (Prefeito do Palácio) e duque de Borgonha, Carlos Martel, conquistou o apoio e suporte da Igreja de Roma, que tinha sua influência ameaçada perante o islamismo, e dos senhores de terra provinciais para empreender uma campanha militar de resistência contra a expansão sarracena. Por um ano, Carlos Martel foi encarregado de levantar um exército, treiná-lo e preparálo para então, no fatídico ano de 732, derrotar os Árabes na batalha de Poitiers (ou batalha de Tours). O ataque sarraceno foi rechaçado, com a morte de seu comandante junto à cidade de Poitiers. Durante sucessivas vezes, a cavalaria árabe tentou penetrar, sem sucesso, as linhas de defesa dos francos. Segue a descrição por um cronista árabe da batalha.
E no abalo da batalha os homens do norte pareciam um mar que não podia ser movido. Eles permaneciam com determinação, um junto do outro, numa formação que era como um castelo de gelo; e com grandes golpes de suas espadas derrubavam os árabes. Arrumados como um bando em torno de seu chefe, os austrasianos carregavam tudo diante deles. Suas incansáveis mãos guiavam suas espadas na direção do peito dos inimigos.
A vitória de Carlos Martel delimitou as fronteiras do Califado Omíada, ao sul dos pirineus, que no futuro viria a se fragmentar. Historiadores estudam, até hoje, a possibilidade de que os grandes empecilhos que barraram a forte expansão islâmica na Europa durante a idade média foram os Francos (na batalha de Poitiers) e os Bizantinos, ou romanos do oriente, (no cerco a Constantinopla de 717 – 718).
Pintura: A Batalha de Poitiers em Outubro de 732
Charles de Steuben.
Carlos Martel, foi um personagem essencial na Dinastia Carolíngia para o firmamento de sua futura dinastia e expansão de suas fronteiras, derrotou diversas tribos germânicas nas fronteiras leste do reino franco, reunificou o território da Aquitânia que havia se fragmentado da antiga Gália (atual França) e intensificou laços políticos promissores com a Igreja Católica.
Entretanto, seus maiores feitos (como unificar a nobreza e fortificar relações com a Igreja) não foram sob o título de sangue real da dinastia merovíngia, mas sim sob o cargo de Major Dominus e com a influência de seus poderes ducais. Após o falecimento de Carlos Martel, Pepino, o Breve, seu filho, também afirmava que seu pai teve um caso com a próprio com a rainha Batilde, e, após sucessivas intrigas e o apoio conquistado dos nobres francos, depôs o último rei Merovíngio, Childerico III, e foi coroado Rei dos Francos dando início a dinastia Carolíngia no ano de 751.
Os Carolíngios reforçaram seu caráter real e eram vistos como chefes de uma sociedade cristã, imagem que serviu para reforçar o seu caráter de uma aristocracia católica, fator que levaria a cabo inúmeras guerras contra os bárbaros germânicos, que agora assumiam o caráter de povos pagãos avessos e inimigos da cristandade. Assumiram uma postura de exercício de legítimo poder agindo sob a tutela de Deus, como se estivessem encarregados da missão de levar a salvação e a guerra a povos que precisavam ser salvos. Pepino, o Breve, então, socorreu o Papa Estevão II quando este esteve sob risco de invasão dos Lombardos do Rei Astolfo duas vezes. Após conseguir derrotá-los, doou os territórios do Norte da Itália ao Papa, dando origem aos Estados Pontifícios e ao Patrimônio de São Pedro.
No Natal de 800, Carlos Magno, filho de Pepino, o Breve, após o falecimento de seu irmão Carlomano, unificou o reino da Frância Oriental ao Ocidental e criou uma unidade imperial que resultou em sua coroação como Sacro Imperador Romano Germânico. Governou até 814, ano de sua morte, um império que fortaleceu a aristocracia senhorial feudal e o próprio Clero, que recebeu muitas terras como doação, construindo muitos mosteiros no território Franco que viriam a catequizar diversas comunidades rurais. Os Carolíngios deram formação a ideia de Cristandade e a própria ideia de uma Europa. Em relação aos Carolíngios, o termo “Europa” assumiu caráter religioso e representaria um lugar que reunia os católicos e que estava submetido a autoridade temporal do Imperador, e da autoridade Atemporal e espiritual do Papa, que usou a unidade imperial Carolíngia para se desprender politicamente e militarmente da influência do imperador romano do oriente.
O Sacro Império Romano Germânico de Carlos Magno 800-814.
As camadas mais populares e as elites senhorias, aderiram à doutrina, cultura e ritos cristãos latinos ocidentais. Os Monges foram os maiores representantes da Igreja Católica na conversão de diversas comunidades rurais no interior da Frância e Germânia. As ilhas britânicas, que estavam sendo governadas por reinos saxões católicos, fortificaram laços prósperos e tratados político-comerciais com os Carolíngios. O movimento político e eclesiástico chamado de “Renascimento Carolíngio foi resultado de um esforço de todos os âmbitos (militar, eclesiástico e político) para o crescimento de uma ampla cultura cristã e de diversos registros como tratados, crônicas, histórias, etc.
O movimento, sob iniciativa de Carlos Magno, criou a Escola Paulatina, uma instituição que reunia diversos eruditos do Ocidente, entre eles, muitos eclesiásticos que tinham a função de formar a alta aristocracia no Estudo da moral Cristã através das Sagradas Escrituras, as leis do império e literatura clássica compreendida como apropriada para a formação destes.
Entretanto, o Renascimento Carolíngio não sobreviveu ao seu colapso no final do século IX. Em 814, Carlos Magno morre e seu filho, Luís, o Piedoso, não foi um governante a altura do pai: teve grande dificuldade tanto em manter a unidade Imperial Íntegra, quanto em resistir aos problemas na política interna, e na externa, onde os ataques e saques de povos nortenhos como dinamarqueses, suecos e noruegueses (vikings) se intensificavam cada vez mais nas regiões costeiras do reino. Após a morte de Luís, o Piedoso, seus filhos dividiram o antigo império em três reinos no tratado de Verdun no ano de 843, dando fim à guerra civil do império carolíngio. Contudo, esse fator foi, também, responsável pela ruína completa da unidade imperial. Mesmo após toda a conturbação que havia ocorrido na Europa Central, a única instituição que sairia fortalecida, com sua autoridade e presença com grande influência, era a Igreja Católica e o Papado Romano, que viriam a desempenhar papel fundamental nos anos que sucederiam a história da Europa Medieval.
O tratado de Verdun dividiu a unidade Imperial Carolíngia em três reinos – como foi representado no mapa acima – sendo a porção azul a Frância Ocidental, a verde a Lotaríngia e a laranja a Frância Oriental.
Fonte- Bibliografia: História Medieval por Marcelo Cândido da Silva
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