ODOACRO: O HOMEM QUE DESTRONOU O ÚLTIMO IMPERADOR ROMANO
- História Medieval
- 16 de mar.
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Odoacro é uma figura histórica fundamental para entender o fim do Império Romano do Ocidente e o início da Idade Média. Sua vida, desde sua origem humilde até sua ascensão como rei da Itália, reflete as transformações políticas e sociais de um mundo em transição. Esta biografia detalhada explora quem foi Odoacro, como ele chegou ao poder e por que decidiu destronar o último imperador romano.
Origens e Juventude de Odoacro
Odoacro nasceu por volta de 433 d.C., em uma família de origem bárbara. Apesar de sua ascendência exata ser debatida, acredita-se que ele pertencia aos skirianos, um povo germânico associado aos hunos, ou aos hérulos, outro grupo bárbaro que servia como mercenários no exército romano. Seu pai, Edecão, era um líder militar que serviu ao general huno Átila, o que sugere que Odoacro cresceu em um ambiente militarizado e multicultural.
Juventude e Carreira Militar
Desde cedo, Odoacro demonstrou aptidão para a guerra. Ele ingressou no exército romano como muitos outros bárbaros de sua época, aproveitando a política romana de recrutar soldados entre os povos germânicos. Sua habilidade como guerreiro e líder logo o destacou, e ele ascendeu rapidamente nas fileiras militares. Segundo o historiador Jordanes:
"Odoacro era um homem de grande força e coragem, conhecido por sua lealdade e habilidade em combate"
(Jordanes, Getica).
A Ascensão ao Poder
No final do século V, o Império Romano do Ocidente estava em colapso. A autoridade central havia se enfraquecido, e o poder real estava nas mãos de generais bárbaros e romanos que controlavam exércitos privados. Em 475, o general Orestes depôs o imperador Júlio Nepos e colocou seu filho adolescente, Rômulo Augusto (apelidado de "Augústulo", ou "pequeno Augusto"), no trono imperial. No entanto, Orestes era quem realmente governava, enquanto Rômulo Augusto era uma figura decorativa.
A Revolta das Tropas Bárbaras
Orestes prometeu terras aos soldados bárbaros em troca de seu apoio, mas falhou em cumprir essa promessa. Isso gerou insatisfação entre as tropas, que se rebelaram sob a liderança de Odoacro. Em 28 de agosto de 476, Odoacro derrotou Orestes na Batalha de Pavia e o executou. Em 4 de setembro de 476, ele marchou sobre Ravena, a capital imperial, e depôs Rômulo Augusto.
Por que Odoacro Destronou o Imperador?
Odoacro não tinha intenção de restaurar o Império Romano ou de se proclamar imperador. Sua motivação principal era garantir o pagamento e as terras prometidas a seus soldados. Ao depor Rômulo Augusto, ele eliminou a figura simbólica do poder romano e assumiu o controle direto da Itália. Segundo o historiador Peter Heather:
"Odoacro agiu por pragmatismo, não por ambição imperial. Ele queria estabilidade e recompensas para seus homens"
(Heather, The Fall of the Roman Empire).
O Gesto Simbólico para Constantinopla
Após a deposição de Rômulo Augusto, Odoacro enviou as insígnias imperiais (os símbolos do poder romano) para o imperador do Oriente, Zenão, em Constantinopla. Esse gesto indicava que Odoacro reconhecia a autoridade do Império Romano do Oriente e governava a Itália em seu nome. No entanto, na prática, ele agia como um rei independente.
O Governo de Odoacro na Itália
Odoacro governou a Itália de 476 a 493, mantendo muitas das estruturas administrativas romanas. Ele garantiu a continuidade da cobrança de impostos e da administração local, o que ajudou a estabilizar a região após anos de caos. Ele também distribuiu terras para seus soldados bárbaros, um ato que refletia a crescente feudalização da sociedade.
Relações com o Império Romano do Oriente
Embora Odoacro tenha se declarado leal a Zenão, sua relação com o imperador do Oriente foi tensa. Zenão via Odoacro como uma ameaça potencial e, em 488, incentivou o líder ostrogodo Teodorico, o Grande, a invadir a Itália. Essa decisão marcou o início do fim para Odoacro.
A Queda de Odoacro
Teodorico e Odoacro travaram uma guerra prolongada entre 488 e 493. Após anos de conflito, os dois líderes concordaram em dividir o poder na Itália. No entanto, durante um banquete de reconciliação em Ravena, Teodorico traiu e assassinou Odoacro em 15 de março de 493. Segundo o relato de Jordanes:
"Teodorico matou Odoacro com suas próprias mãos, dizendo: 'Onde está Deus?' Odoacro respondeu: 'O que fizeste comigo?'"
(Jordanes, Getica).
O Legado de Odoacro
Odoacro é lembrado como o homem que pôs fim ao Império Romano do Ocidente, mas sua vida e governo foram mais complexos do que essa simplificação sugere. Ele foi um líder pragmático que tentou estabilizar a Itália em um período de grande turbulência. Sua queda para Teodorico marcou o início do domínio ostrogodo na península, mas seu legado como um dos primeiros reis bárbaros da Europa medieval permanece.
Segundo o historiador Bryan Ward-Perkins:
"Odoacro não foi um destruidor, mas um adaptador. Ele personifica a complexa interação entre romanos e bárbaros que moldou o início da Idade Média"
(Ward-Perkins, The Fall of Rome and the End of Civilization).
Referências Bibliográficas
Heather, Peter. The Fall of the Roman Empire: A New History. Oxford University Press, 2005.
Jordanes. Getica: The Origin and Deeds of the Goths. Tradução de Charles C. Mierow, 1915.
Ward-Perkins, Bryan. The Fall of Rome and the End of Civilization. Oxford University Press, 2005.
Gibbon, Edward. The History of the Decline and Fall of the Roman Empire. Penguin Classics, 2000.
Bury, J.B. History of the Later Roman Empire. Dover Publications, 1958.