
O uso de drogas na Idade Média era uma prática comum, embora muitas vezes mal compreendida. Substâncias como ópio, álcool, ervas medicinais e outras eram utilizadas para uma variedade de fins, desde o tratamento de doenças até a recreação e a realização de rituais religiosos. Neste artigo, exploraremos como as drogas eram usadas na Idade Média, quem as utilizava e quais eram os significados culturais e sociais por trás de seu uso.
1. O Contexto do Uso de Drogas na Idade Média
Na Idade Média, o uso de drogas estava intimamente ligado à medicina, à religião e à vida cotidiana. A medicina medieval era uma mistura de conhecimentos clássicos (especialmente de Galeno e Hipócrates), práticas populares e crenças religiosas. As drogas eram frequentemente utilizadas como remédios, mas também podiam ser usadas em contextos recreativos ou ritualísticos. Segundo o historiador Peregrine Horden:
"a medicina medieval era uma prática holística, que combinava o uso de ervas, minerais e substâncias animais com orações e rituais"
(Horden, Medieval Medicine, 2011, p. 45).
2. Drogas Medicinais
a) Ópio
O ópio, derivado da papoula, era uma das drogas mais importantes da medicina medieval. Era utilizado como analgésico, sedativo e para tratar uma variedade de doenças, desde dores de cabeça até disenteria.
Uso: O ópio era frequentemente administrado na forma de "láudano", uma mistura de ópio e álcool.
Riscos: Embora eficaz, o ópio podia causar dependência e overdose, problemas que já eram reconhecidos na época.
"O ópio era um remédio poderoso, mas seu uso exigia cuidado e conhecimento."
— John M. Riddle, Goddesses, Elixirs, and Witches: Plants and Sexuality throughout Human History, 2010.
b) Ervas Medicinais
Ervas como valeriana, beladona e mandrágora eram amplamente utilizadas na medicina medieval. A valeriana era usada como sedativo, enquanto a beladona e a mandrágora eram empregadas como analgésicos e alucinógenos.
Uso Ritualístico: A mandrágora, em particular, era associada a rituais mágicos e à feitiçaria, devido à sua forma humana e propriedades psicoativas.
"As ervas medicinais eram uma parte essencial da farmacopeia medieval, mas seu uso também estava envolto em mistério e superstição."
— Barbara Griggs, Green Pharmacy: A History of Herbal Medicine, 1981.
3. Álcool como Droga
O álcool era uma das substâncias mais consumidas na Idade Média, tanto por suas propriedades medicinais quanto por seu uso recreativo. A cerveja e o vinho eram bebidas comuns, consumidas por pessoas de todas as classes sociais.
Uso Medicinal: O vinho era frequentemente utilizado como veículo para medicamentos, enquanto a cerveja era considerada nutritiva e segura para beber, em contraste com a água, que muitas vezes estava contaminada.
Uso Recreativo: O álcool também era consumido em festas e celebrações, embora o excesso fosse desaprovado pela Igreja.
"O álcool era uma parte integrante da dieta medieval, mas seu consumo excessivo era visto como um pecado."
— Richard W. Unger, Beer in the Middle Ages and the Renaissance, 2004.
4. Drogas e Religião
Algumas substâncias eram utilizadas em contextos religiosos e ritualísticos, poderiamos até dizer que seria parecido com a seita do daime aqui no Brasil, em que pessoas se reunem para se drogarem, mas nesse ponto sem a prática do sexo livre que as vezes tem, e tambem na idade média, não se tinha a manifestação de um líder de seita e uso da "fardas", as tais roupas brancas com faixas verdes como tem no daime. Eles usavam nesse caso o cânhamo (maconha), que era conhecido na Europa medieval, embora seu uso fosse mais comum no mundo islâmico.
Uso Ritualístico: Em algumas culturas, o cânhamo era utilizado para induzir estados alterados de consciência durante rituais religiosos.
Uso Medicinal: O cânhamo também era utilizado como analgésico e anti-inflamatório.
"O cânhamo era uma substância versátil, utilizada tanto na medicina quanto em rituais religiosos."
— Franck Bové, The Book of Cannabis: A Complete Guide to Its History, Uses, and Effects, 2002.
5. Drogas e Feitiçaria
Muitas substâncias psicoativas eram associadas à feitiçaria e à magia. A beladona, a mandrágora e o meimendro eram frequentemente mencionados em textos sobre feitiçaria, onde se acreditava que podiam ser usados para criar poções e ungüentos mágicos.
Uso em Poções: Essas substâncias eram utilizadas em poções que supostamente induziam visões, voos mágicos ou transformações.
Perseguição: O uso dessas substâncias em rituais de feitiçaria contribuiu para a perseguição de supostas bruxas durante a Idade Média e o início da Idade Moderna.
"As plantas psicoativas eram um elemento central nas práticas de feitiçaria, mas também eram temidas por seu poder."
— Richard Kieckhefer, Magic in the Middle Ages, 1989.
6. Drogas e Recreação
Embora o uso recreativo de drogas fosse menos documentado do que o uso medicinal, há evidências de que algumas substâncias eram consumidas por prazer. O álcool era a droga recreativa mais comum, mas outras substâncias, como o ópio e o cânhamo, também podiam ser usadas para induzir estados de euforia ou relaxamento.
Contexto Social: O uso recreativo de drogas era mais comum entre as classes altas, que tinham acesso a substâncias importadas e caras.
"O uso recreativo de drogas era uma prática marginal, mas presente na sociedade medieval."
— David Courtwright, Forces of Habit: Drugs and the Making of the Modern World, 2001.
7. Conclusão
O uso de drogas na Idade Média era uma prática complexa e multifacetada, que refletia as crenças, os conhecimentos e as necessidades da época. Substâncias como ópio, álcool e ervas medicinais eram utilizadas para tratar doenças, induzir estados alterados de consciência e até mesmo realizar rituais mágicos. Ao estudar o uso de drogas na Idade Média, podemos compreender melhor as práticas médicas, as crenças religiosas e a vida cotidiana das pessoas que viveram nesse período.
Fontes e Referências
Horden, Peregrine. Medieval Medicine. Oxford University Press, 2011.
Riddle, John M. Goddesses, Elixirs, and Witches: Plants and Sexuality throughout Human History. Palgrave Macmillan, 2010.
Griggs, Barbara. Green Pharmacy: A History of Herbal Medicine. Healing Arts Press, 1981.
Unger, Richard W. Beer in the Middle Ages and the Renaissance. University of Pennsylvania Press, 2004.
Bové, Franck. The Book of Cannabis: A Complete Guide to Its History, Uses, and Effects. Ronin Publishing, 2002.
Kieckhefer, Richard. Magic in the Middle Ages. Cambridge University Press, 1989.
Courtwright, David. Forces of Habit: Drugs and the Making of the Modern World. Harvard University Press, 2001.
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