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KINGDOM COME: DELIVERANCE - UM SIMULADOR DA IDADE MÉDIA

Atualizado: 6 de abr. de 2023



Após jogar Kingdom Come: Deliverance, resolvi fazer um artigo sobre minha experiência com o jogo, e também despertar a curiosidade para que mais pessoas joguem, para quem não conhece o jogo, o Kingdom Come: Deliverance é um RPG lançado em 13 de janeiro de 2018, pela Warhorse Studios.


O jogo é em primeira pessoa, e para quem gosta de fantasia de terra média, magia e dragões, é bom partir para outro jogo (Skyrim é a melhor saída) pois KCD é um simulador medieval em que o protagonista é um camponês da Idade Média. A fantasia nesse caso, fica só nos livros.


No jogo você não é um herói, nem nobre e muito menos um lorde. Você é Henry, um jovem comum, sem posses e que não tem onde cair morto literalmente. É apenas o filho do ferreiro, que não tem ambições ou se quer alguma habilidade. Para quem não jogou, e para quem já tambem o fez, vou dizer aqui minha experiência e tambem falar sobre o enredo.


Pois bem, o jogo se passa no Europa medieval, especificamente na Boêmia do século XIV (atual república Tcheca), temos que lembrar que esse período, é bem turbulento, ainda mais em questões de cavalheirismo, religião e posse que estão em ebulição, destruindo povoados e reinos. No início do jogo você fará alguns objetivos simples, até chega a ajudar o ferreiro (seu pai) a forjar uma espada. É neste cenário que a vida pacata de Henry (você no jogo) é interrompida por um ataque violento, consequência de intrigas políticas entre o atual rei Wenceslaus e seu meio-irmão Sigismund, Rei da Hungria.


A vila é destruída e os pais de Henry são mortos. Então você começa uma jornada de vingança e sobrevivência. Mas claro, como eu disse, e fica bem claro ao passar dos minutos do jogo, não espere por uma história magica, na qual ele adquire habilidades extraordinárias, espadas com XP alto, muito menos livros que lhe darão atributos. Muito pelo contrário, você no jogo não sabe empunhar uma espada, não tem dinheiro, pode morrer com qualquer dor de barriga e ainda não é alfabetizado.


Um ponto muito positivo no jogo é a liberdade com certo realismo. Já que o jogo não tem a opção de tomar poção de mana e estamina, você embarca no jogo e precisa adquirir reputação, e cumprir com os compromissos, pois irá deixar uma aparências positiva por onde passa, um exemplo, é se você se atrasar para uma missão, os personagens irão sem você. Se for pego vendendo coisas roubadas ou verem você roubando, pode passar uns dias na cadeia. Comer demais te fará passar mal e ficar sem dormir deixará sua visão turva e desorientada. E beber muito te transformará em um alcoólatra. Ou seja, trocando a vestimenta, alterando os diálogos, pode alterar totalmente o rumo da história para terminar uma missão.


Algo muito relevante é como os desenvolvedores criaram esse ambiente, do qual você deve ter algumas atenções muito necessárias antes de se envolver com assuntos da nobreza, por exemplo, você precisa cuidar de necessidades básicas, como fome, sono e higiene. O bem-estar do personagem afeta diretamente seu desempenho no combate e nos diálogos, mas claro, tudo terá consequências, com situações pensadas nos mínimos detalhes.


Se você não se alimentar, o seu estomago vai roncar e pode acordar um inimigo no meio do seu ataque furtivo. Se você beber demais, será mais simpático com língua solta e irá garantir um bônus de carisma, mas junto a isso terá os efeitos da ressaca que podem durar algumas horas. Já se você quer a atenção dos nobres no jogo, ande bem vestido, limpo e com joias (é muito importante isso). Contudo, se o seu objetivo é intimidar, uma roupa manchada de sangue já resolve.


Por mais que você seja um camponês comum, poderá aprender habilidades e vantagens através de treinamento (fator muito importante). Não é tão rápido como seria em outros jogos, mas é gratificante. Com o tempo, poderá produzir poções, reparar armas, adquirir vantagens de resistência – sentir menos fome ou sono – e aprender a lidar com todo o tipo de situação. A reputação tem um papel importante em todos os diálogos, foque muito nisso.


Em uma analise ampla, o que mais se destaca é o combate. Se você espera por algo no estilo de Skyrim, esse não é jogo para você. A curva de dificuldade é o primeiro detalhe que se percebe ao puxar a espada pela primeira vez em KCD. Ela é punitiva, no entanto, não de uma maneira injusta - é pensada de acordo com as limitações de Henry.


O protagonista aprende a usar uma arma do zero. Ou seja, por mais que você saiba realizar os comandos durante uma luta, ela ainda é influenciada pelo que Henry sabe ou não fazer. Os equipamentos podem ter tanto impacto positivo como negativo, assim como o uso das armas.


Algo interessante é a possibilidade de usar camadas e mais camadas de roupa para ter maior proteção, mas claro, como eu disse anteriormente, tudo terá consequências, nesse caso você limitará a movimentação e a agilidade durante as lutas. Além disso, mesmo que você tenha uma arma forte, se você não tiver conhecimento para usá-la, ela não apresentará todo o seu potencial. Inclusive, pode ter um desempenho pior do que se ele estivesse usando uma mais fraca.


O combate mesmo trazendo um certo realismo (irei fazer um artigo sobre detalhes reais e fictícios em jogos medievais em breve), é simples, com pequenos truques para esquivar e enganar o adversário. Você pode escolher o lado para qual vai atacar e apertar a defesa no tempo certo para bloquear perfeitamente. E claro, você não tem uma “classe”, então pode experimentar vários estilos de luta.


Detalhe importante ao jogar. é a possibilidade de sentir o peso do personagem e seus equipamentos. Os combates violentos, às vezes, não muito justos em questão de número (tipo 4 contra você). Usar um arco e flecha é custoso e deverá ter muita paciência e persistência. A mira não fica fixa, pois treme com a respiração do personagem e a força que o jovem usa para puxar a flecha vai esgotando sua condição física. Contudo, quando você realmente consegue acertar um alvo, a sensação é "caramba, vou atirar mais um".


Lembre-se o que falamos lá no início, você começa do zero! Então, o treinamento é a prática. Quanto mais você lutar ou usar determinada arma, maior será o level com aquele equipamento. O mesmo vale para as conversas. Caso não queira lutar, pode tentar resolver tudo no bom e velho diálogo. O jogo te oferece a opção de abordar as situações de uma maneira pacífica – desde que você tenha talento suficiente para isso (caso contrário, você altera todo o rumo).


Os diálogos são muito importantes de diversas maneiras. É através deles que você se situará na história e poderá experimentar a mesma missão de um jeito diferente. Ao interrogar um camponês, por exemplo, você pode desbloquear uma ação opcional – e mais rápida.


Como citado antes, a pontualidade é um fator determinante em KCD. Se você já jogou Skyrim, em que tem 10 quests para fazer, e você libera outra e mais outra, pois não limitam seu tempo para completá-las. Aqui é diferente. Se você não acompanhar os NPCs no momento certo, eles o abandonarão e, de quebra, sua atitude irá prejudicar o andamento da missão – e a sua reputação com a nobreza (ou seja vai dar merda).


As cidades são “vivas” e seguem os horários rigorosamente, todos os dias. Assim como na realidade, você pode acabar pagando caro por querer fazer algumas coisas no seu tempo.


Mas como todo jogo, nem tudo é maravilhoso, muitas partes podem ser impressionantes, mas em determinados momentos, terá muitas frustrações. O combate certamente não é para todos e o sistema de salvamento se torna o verdadeiro obstáculo em algumas situações. Você só pode salvar o jogo se dormir em uma cama própria ou usar um item chamado Saviour Schnapps (uma bebida alcoólica).


O problema disso é que inicialmente o item é caro e só pode ser fabricado quando o rapaz adquire a habilidade de alquimia – o que também custa dinheiro e tempo de treinamento. (Então se você pensa em jogar 10min e jogar no outro dia, nem inicie o jogo). O combate traz um realismo, e qualquer descuido pode ser a sua morte. Só isso já é frustrante o suficiente para se aborrecer ao perder mais de uma hora dentro de uma missão importante.


Apesar dos pesares, o visual e os cenários são muito bem ambientados para a época. Você verá castelos enormes, campos floridos e povoados agitados, como se fossem reais. Ao entrar em uma cidade, você ouvirá seus moradores, o barulho dos cascos dos cavalos, o bater da espada do ferreiro e verá o lamaçal que se forma nas ruas de cada beco. Se acordar bem cedo também poderá acompanhar o nascer do sol.


As animações e diálogos acompanham o nível de realidade, a trilha sonora é impecável e te transporta para a era medieval. No geral, a dublagem dos personagens é bem-feita e dá todo um charme para a história, que por si só já é extremamente cativante.


Por fim, Kingdom Come: Deliverance, tem um realismo de maneira certa, um enredo excepcional, personagens históricos e conflitos impactantes. O jogo não precisa de criaturas místicas ou poderes sobrenaturais para se destacar entre o gênero. Ele o faz com um combate robusto, personagens que são "gente como a gente" e um protagonista que começa do zero para encontrar o seu lugar.

 

Lançamento: 13 de fevereiro de 2018 - Jogo disponível nas plataformas: PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, Microsoft Windows, Amazon Luna


Desenvolvedor: Warhorse Studios

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