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A QUARTA-FEIRA DE CINZAS NA IDADE MÉDIA: TRADIÇÃO, JEJUM E ARREPENDIMENTO

Foto do escritor: História MedievalHistória Medieval

Atualizado: 5 de mar.


A QUARTA-FEIRA DE CINZAS NA IDADE MÉDIA: TRADIÇÃO, JEJUM E ARREPENDIMENTO
Baltimore: Walters Art Museum, W. 174, Missal de Eberhard von Greiffenklau, fol. 28r

A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma, um período de 40 dias de jejum e penitência que antecede a Páscoa. Na Idade Média, essa data era observada com rigor e solenidade, refletindo a profunda influência da Igreja sobre a sociedade medieval.


Origens e Institucionalização


A tradição de usar cinzas como símbolo de arrependimento remonta às Escrituras, como em Jonas 3:6 e Mateus 11:21. No século XI, o Papa Urbano II oficializou a prática da Quarta-feira de Cinzas, tornando-a um rito universal da Igreja Católica. Documentos litúrgicos medievais, como o Missale Romanum, registram essa cerimônia, na qual os fiéis recebiam as cinzas na testa em forma de cruz, acompanhadas das palavras: "Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris" ("Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó voltarás").


Práticas e Costumes Medievais


Durante a Idade Média, a Quarta-feira de Cinzas marcava uma mudança drástica no comportamento da sociedade. O clero, nobres e camponeses participavam da missa penitencial e passavam a seguir as rigorosas regras do jejum quaresmal:

  • Apenas uma refeição diária era permitida.

  • O consumo de carne vermelha era proibido, sendo substituído por peixe, pão e vegetais.

  • O vestuário deveria ser simples e sem adornos, simbolizando humildade.

Nos mosteiros beneditinos e cistercienses, a disciplina era ainda mais severa. Além do jejum, alguns monges praticavam autoflagelação como forma de penitência, conforme descrito por São Tomás de Aquino em sua Summa Theologica.


O Papel da Igreja e o Controle Social


A Quarta-feira de Cinzas também reforçava o papel da Igreja como mediadora da fé e da moral. Pregadores enfatizavam a transitoriedade da vida e a necessidade do arrependimento, lembrando a todos sobre a inevitabilidade da morte e do Juízo Final.

Os tribunais medievais, influenciados pelo calendário litúrgico, frequentemente suspendiam execuções e guerras durante a Quaresma. Essa prática era comum nos reinos cristãos da Europa, como evidenciado por documentos do Regesta Imperii, um acervo de registros administrativos do Sacro Império Romano-Germânico.


O “Carnaval” Medieval e o Fim dos Excessos


Na Idade Média, a Quarta-feira de Cinzas encerrava um período de festividades que antecedia a Quaresma, conhecido em algumas regiões como Carnevale (na Itália), Fastnacht (nos territórios germânicos) e Shrovetide (na Inglaterra). Essas celebrações não eram equivalentes ao Carnaval moderno, mas possuíam elementos comuns, como banquetes, jogos populares e a inversão social temporária.


Durante esses dias, as pessoas aproveitavam para consumir os estoques de carne e outros alimentos proibidos no jejum quaresmal. Além disso, havia festividades em que camponeses e cidadãos podiam zombar das autoridades e até mesmo do clero, em uma tradição de permissividade passageira antes do rigor religioso. Um exemplo disso era a "Festa dos Loucos", em que membros do clero inferior assumiam posições elevadas e promoviam encenações satíricas.


No entanto, a Igreja condenava os excessos e buscava restringir tais celebrações, reforçando que a Quaresma era um tempo de reflexão e penitência. Os sermões da Quarta-feira de Cinzas frequentemente lembravam os fiéis da efemeridade da vida e da necessidade do arrependimento.


Conclusão


A Quarta-feira de Cinzas na Idade Média era mais do que um rito religioso; era um evento que moldava o cotidiano da sociedade, reafirmando a autoridade da Igreja e promovendo a ideia de penitência coletiva. Com suas raízes nas Escrituras e na tradição cristã, essa celebração continua sendo um marco de renovação espiritual até os dias atuais.


 

Fontes Consultadas:


  • Missale Romanum (documento litúrgico medieval)

  • Summa Theologica, São Tomás de Aquino

  • Regesta Imperii (registros administrativos do Sacro Império Romano-Germânico)

  • Liber Ordinarius (manual litúrgico medieval)

  • Jonas 3:6 e Mateus 11:21 (Bíblia Sagrada)

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