HOMOSEXUALITY IN THE VIKING AGE? AN ANALYSIS OF THE FEMALE AND MALE “BEING” IN SAGAS
Resumo: Em comemoração ao mês de Junho dedicado a diversidade e aos grupos LGBTQIA+, lanço um trabalho que visa lançar “luz” sobre as questões relacionados aos relacionamentos homo afetivos na Era Viking, e que caíram no gosto popular pelo termo vikings “gays” e “vikings lésbicas”, com o intuito de desmistificar informações que circulam sobre determinadas figuras que aparecem em peças arqueológicas, e na literatura escandinava medieval.
Mesmo não fazendo parte desta comunidade respeito e apoio qualquer forma de amor entre as pessoas, o trabalho foi feito de forma acadêmica e visa melhorar o entendimento sobre questões que cercam este lado pouco divulgado da história dos Vikings, portanto não utilize essa pesquisa para fomentar o ódio e o preconceito com os termos empregados oriundos da documentação analisada.
Palavras - Chave: Junho, Homo afetividade, Era Viking, Arqueologia.
Abstract: In celebration of the month of June dedicated to diversity and LGBTQIA+ groups, I launch a work that aims to shed "light" on issues related to homo-affective relationships in the Viking Age, which have fallen into popular taste for the term Vikings "gays" and "Vikings Lesbians”, with the aim of demystifying information that circulates about certain figures that appear in archaeological pieces, and in medieval Scandinavian literature.
While not part of this community I respect and support any form of love between people, the work was done academically and aims to improve understanding of issues surrounding this little publicized side of Viking history, so do not use this research to foster the hatred and prejudice with the terms used from the analyzed documentation, respect others, to be respected.
Keywords: June, Homo Affection, Viking Age, Archeology.
1 .Intrudução:
Não há registros de casos que confirmem a existência da homossexualidade em homens e mulheres na Era Viking, porém há suposições e evidências literárias que poderiam indicar a presença das relações homoafetivas nas sociedades escandinavas medievais. Dentre as indicações estão algumas leis e trechos de sagas que comprovariam uma possível relação sexual entre pessoas do mesmo sexo. Dentre elas está o emprego do termo Fudflogi(homem que foge do órgão sexual feminino) e do termo flannfluga(mulher que foge do órgão sexual maculino). E que estes eram vistos como não cumpridores da lei, devido á não manterem um casamento com pessoas do sexo oposto em detrimento á sua opção sexual (JOCHENS, 1995, pág.65).
A homo afetividade na questão masculina trilhava sobre duas linhas uma de que não havia nada de vergonhoso em relação á um homem ter relações sexuais com outro homem se ele estava no papel de agente ativo da relação, já no caso do sócio passivo este era visto com desprezo, porém devemos lembrar que tanto a documentação das leis e das sagas provém de uma Escandinávia já cristã nos séc.XVIII e XIV, bem após o período do paganismo nórdico. Alguns mitos e lendas nórdicas mostram que deuses e heróis foram honrados mesmo tendo participado de atividades homo afetivas, o que poderia indicar que no período que antecede o cristianismo a questão da homo afetividade poderia ser melhor aceita pela comunidade.
2. Vikings “Gays”? Aceitação ou Desprezo?
As relações homo afetivas na Era Viking não eram consideradas como algo ruim e pevertido, ou contra as leis da natureza como na visão cristã, o sexo entre pessoas do mesmo gênero não foi algo condenando, porém o que viria com o ato dependendo de uma das partes sim, pois aquele que era de certa forma “usado” por outro homem era igualado ao sentido de covardia devido aos preceitos do costume de agressão sexual contra inimigos vencidos, inferindo diretamente contra a ética nórdica da auto-suficiência, em outras palavras aquele que agia como passível em uma relação refletiria em sua posição social destinado a ser um subordinado ao invés de um líder (SØRENSON, 1983, pág.20).
Esta prática foi documentada por Preben Sørenson no livro Concepts of Sexual Defamation in Early Northern Society, na análise de duas sagas, que segundo o mesmo:
“Na Sturlunga saga, e na Guðmundar dýra saga onde Guðmundr leva em cativeiro um homem e sua esposa, e os planos para tanto a mulher e o homem, a ser violadas, como meio de humilhação sexual (Ok var þat við orð at leggja Þórunni í rekkju hjá einhverjum gárungi, en gera þat vi Bjôrn prest, at þat þætti eigi minni svívirðing. ) (SØRENSON, 1983, pág.68). Além de estupro, os inimigos eram freqüentemente castrados, mais uma vez testemunhado em vários lugares por Sturlunga saga . Grágás registra que um klámhogg ou "vergonha tempos" nas nádegas foi, juntamente com a castração, um "grande ferida" ( hin meiri Sar ), classificados com feridas que penetraram o cérebro, abdômen, ou de medula: o klámhogg foi assim equiparado a castração como "emasculação" a vítima, e classificado com feridas que causam grandes penetrações do corpo, sugerindo fortemente que o termo se refere a violação ou sexo anal forçada tal como foi infligido um combatente derrotado” (SØRENSON, 1983, pág.68).
Porém não fica claro a amplitude da prática de estupro de inimigo derrotados o que confere um cárater mais literário do que real, uma vez que insultos como sersansorðinn, ragr, níðingr, ou ergi, eram todos referentes a receptores passivos de sexo anal e não especificamente a prisioneiros ou inimigos ,quanto ao sexo oral não fica explícito se era condenado ou não a prática em relações homo afetivas tanto de homens quanto de mulheres.
Outro trecho de uma saga mostra que era aceitável as relações homo afetivas de homens que eram considerados inférteis pelos mais diversos motivos, como descrito por Jenny Jochens no livro, Women in Old Norse Society:
Uma gíria para um homem parece ter sidokottrinn blauði inn , ou "gato macio" como relatado na stufs þáttr , um epílogo para Laxdæla saga , em uma conversa entre o rei norueguês Haraldr harðráði e Stúfr, filho de Þórðr kottr ( Þórðr o gato): intrigado com o apelido incomum, Haraldr pede Stúfr se seu pai era Þórðr inn kottrinn hvati eða blauði inn ", o disco ou o gato macio." Stúfr se recusa a responder, apesar do insulto implícito, mas o rei admite que sua pergunta era tola porque "a pessoa que é macio ( blauðr ) não poderia ser um pai "(JOCHENS, 1995, pág. 76).
Cena do jogo Assassins Creed Valhalla, 2020,na qual a jogabilidade permite o jogador/personagem, Eivor escolher com quem irá se relacionar afetivamente, a cena ganhou repercussão em sites LGBTQIA+, e foi muito utilizada como exemplo de haviam “Vikings Gays” naquele período, https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/trailler-de-assassins-creed-valhalla-exibe-romance-gay.
2.1. “Lesbianismo” na Era Viking?
Há poucas fontes sobre as relações homo afetivas entre mulheres, o emprego da forma feminina ARGR, é usado se referindo a uma mulher, não indicando que ela é “homossexual”, mas sim uma mulher lasciva ou indescente. No Staðarhólsbók uma das versões do Gragas, cita a proibição de uma mulher de utilizar roupas masculinas, de cortar seu cabelo como o de um homem, de portar armas e de se comportar como um homem, mas não menciona que seu comportamento sexual seja como de um homem (SØRENSON, 1983, pág.18).
Cena da série Vikings (Episódio 11 da 4° temporada), na série a personagem Lagertha desenvolve uma relação homo afetiva com a personagem Astrid, o caso entre as duas personagens acabou também causando comoção nas comunidades LGBTQIA+, e levando muitos a acreditarem de que essa era uma comprovação da existência de mulheres “homossexuais” na Era Viking, 2013-2020, https://blog.lesbianmedia.tv/lagertha-and-astrid-kiss-vikings/katheryn-winnick-and-josefin-asplund-from-vikings/.
3. A homo afetividade na mitologia nórdica e questão do “homem afeminado”:
A perspectiva sobre determinados deuses,heróis e sacerdotes ligados a alguma divindade serem “homossexuais” é descrito pelo termo “unmanly” associado a práticas de cunho questionável, Loki por exemplo é muita das vezes descrito como bissexual, porém o termo beira ao anacronismo e a incoerência de seu uso, mesmo que seu papel fosse o de assumir um caráter feminino ou melhor de uma fêmea de cavalo na Gylfaginning, como mostrado no trecho da Edda em prosa de Snorri Sturlusson:
"Loki tinha tido tais negociações com Svadilfari (o garanhão) que em algum momento mais tarde, ele deu à luz um potro , "o mais maravilhoso de todos os cavalos, cavalo de oito patas de Odin, Sleipnir. (STURLUSON, 1995 , pág.68)
Odin, foi acusado de Ergi termo ligado a efeminação devido á prática da Seidr que aprendeu com a deusa Freya, porém não há clareza do porque a prática da Siedr fez com que fosse visto dessa forma, levando o caso a diversas hipóteses desde a covardia até rituais sexuais que envolvam um Seidr que também é designado para descrever um profissional como parceiro sexual ativo ou passivo, veja abaixo o trecho da Ynglingasaga:
“Odin teve a habilidade que dá grande poder e que ele praticou a si mesmo. Ele é chamado de seiðr , e por meio dela ele poderia saber o destino dos homens e prever eventos que ainda não tinha acontecido; e por isso ele também poderia causar a morte ou infortúnios ou doença, ou também privar as pessoas de sua inteligência ou força, e dá-los a outros. Mas essa magia é frequentado por essa grande ergi que os homens consideravam vergonhoso para praticá-lo, e por isso foi ensinado a sacerdotisas” ( STURLUSON, 1964, cap.7).
O cronista Saxo Grammaticus em seu manuscrito Gesta Danorum relata que sacerdotes ligados ao deus Freyr e ao deus Njord utilizavam "gestos efeminados e as palmas dos mimos no palco e... o barulho dos sinos pouco viril.E que que os mesmos foram honrados mas se envolveram também em atos de ARGR, utilizando cabelos com um estilo reservado apenas para mulheres e trajavam vestidos femininos (DUMÉZIL, 1970, pág.115).
A moral dos deuses não pode ser esperada que seja igualmente as dos humanos, porém diversos heróis foram citados como culpados de serem Ergi como no caso de Helgi Hundigsbana, que no poema Grettisfaerla disse ter mantido relações sexuais com: “donzelas e as viúvas, esposas de todos, filhos de agricultores, reitores e cortesões, abades e abadessas, vacas e bezerros, na verdade, com perto de todas as criaturas vivas "( SØRENSON, 1983, pág.18)
• A problemática do caso de “afeminação” em Þrymskviða:
Também chamado de a canção de Thrym faz parte do compilado da Edda em verso/prosa de Snorri Sturluson, no episódio é descrito o roubo do martelo do deus Thor que só seria devolvido pelo gigante Thrym se a deusa Freya aceitasse se casar com ele, porém os Aesir elaboram um plano em que envolve o deus Thor ir vestido como noiva e o deus Loki como dama de companhia;
Porém é comumente associado que tal fato é na verdade um ato de demonstração de que ambos os deuses são afeminados ou possivelmente “homossexuais”, porém na trajetória da estória contada não há nenhum indícios de que se trata de tais considerações, sendo assim mais uma questão de interpretação pessoal do que factual, de quem observou desta maneira, Thor e Loki não podem ser interpretados também como travestis ou drags, pois seria como coloca-los em termos atuais e percepções atuais, as roupas tratam-se apenas de disfarces, tanto que o deus Thor não consegue manter o comportamento feminino em algumas situações tendo de utilizar o auxílio de Loki, para justificar o comportamento da “noiva”, afim de que seus disfarces sejam preservados (ÇELIK, 2021, pág. 175- 184)
Ilustração feita por Elmer Boyd Smith, de Thor se preparando para o “casamento”, 1902, https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ah,_what_a_lovely_maid_it_is!_by_Elmer_Boyd_Smith.jpg.
3. A prostituição “homossexual” na Era Viking ?
Outra evidência possível sobre as relações homo afetivas na Era Viking, estão descritas no Olkfra páttr, um conto presente no manuscrito Modruvallbók de meados do séc.XIV. Em que menciona o termo argaskattr, que teria o significado, de “ uma taxa fixa ou outro tipo de pagamento feito a uma ARGR homem” e indica que o valor pago foi abaixo do esperado (SØRENSON, 1983,pág.34-35)
O trecho trata-se de um possível grupo de homens que atuavam como comcubinas ou se prostituiam. E seguindo uma certa lógica, de que assim como outras comcubinas do sexo feminino, esses homens que vendem sexo a outros homens teriam pertencido á classes sociais inferiores, como a dos escravos (KARRAS, 1990, pág.141-162).
Loki entra conflito com os deuses e os acusa da prática de Seidr, além de proferir insultos, tal episódio é descrito na Lokassena, poema que faz parte da Edda poética ilustração de Lorenz Frølich, 1885, https://en.wikipedia.org/wiki/Lokasenna#/media/File:Lokasenna_by_Lorenz_Fr%C3%B8lich.jpg
4. As Guldgubbars trazem casais homo afetivos em suas representações?
Em pequenas placas folheadas á ouro chamadas de Guldgubbars, há representações de figuras que parecem ser a de casais se abraçando ou se beijando. Em uma das representações mostra o que seria um casal formado por homem e mulher, da qual uma das hipóteses apresentadas por muitos comentaristas seria a de que a figura masculina é o deus Freyr e a da feminina a da donzela/gigante Gerd, e de que estas placas como descreve Hilda Ellis-Davidson, no livro podem ter sido utilizadas em casamentos (ELLIS-DAVIDSON, 1988, pág. 31 e pág. 121).
Porém alguns destas peças douradas mostram o que seriam “casais” do mesmo sexo, as figuras masculinas possuem barba e as femininas um penteado, seios grandes e utilizam vestidos.
A possiblidade de se pensar que as figuras acima seriam a representação de um casamento ou de uma união sexual entre pessoas do mesmo sexo, é de fato tentador aos olhares da perspectiva atual dos relacionamentos afetivos, porém outra explicação que também integraria as análises das figuras, é a de que em muitas culturas é comum as pessoas não dançarem com o sexo oposto, e que portanto estas representações seriam a de uma dança e não um indicativo de que os ali retratados são casais homo afetivos (VIKING ANSWER LADY, 2015).
Alguns exemplo de Guldgubbars encontrados, no primeiro exemplo da esquerda supostos casais do mesmo sexo e na figura da direita casais de sexos opostos, https://br.pinterest.com/pin/349591989807977497/,https://docplayer.com.br/45098596-A-homossexualidade-na-escandinavia-e-tribos-germanicas-por-marcio-alessandro-moreira-a-homossexualidade-na-escandinavia-e-tribos-germanicas.html
5.Conclusão:
Muitas das representações que temos sobre este assunto ainda provém de fontes literárias feitas no período do cristianismo na Escandinávia, e outras suposições e interpretações em análises arqueológicas, mas a grande questão é a de que temos pouquíssima informação sobre os relacionamentos homo afetivos na Era Viking, o que se torna também problemático o fato de determinados sites explorarem imagens com informações equivocadas ou seja com uma visão atual transposta para o passado, é necessário que estejamos cientes das diversas teorias envoltas do que cerca a união de pessoas do mesmo sexo naquele período.
Porém não podemos afirmar que tais situações citadas neste artigo corresponde há realidade vivenciada pelos povos escandinavos no período medieval, e que muito do que já se foi descoberto ainda permanece repleto de questionamentos sendo necessário mais estudos que comprovem a existência deste tipo de relação entre os indivíduos daquela sociedade.
Fontes primárias:
1. STURLUSON, Snorri. Heimskringla: History of the Kings of Norway. Lee M. Hollander, trans. Austin: University of Texas Press. 1964, cap.7.
2. STURLUSON, Snorri. The Prose Edda. trans. Jean I. Young. Berkeley: University of California Press. 1954; Reprint 1962, pág.68.
3. SØRENSON, Preben M. The Unmanly Man: Concepts of Sexual Defamation in Early Northern Society. trans. Joan Turville-Petre. The Viking Collection, Studies in Northern Civilization 1. Odense University Press. 1983, pág.18, pág.20, pág. 34-35 e pág.68 .
Fontes secundárias:
1.DUMÉZIL, Georges. From Myth to Fiction: the Saga of Hadingus. Chicago: University of Chicago Press. 1970, pág.115 .
2.ELLIS-DAVIDSON, Hilda R. Myths and Symbols in Pagan Europe: Early Scandinavian and Celtic Religions. Syracuse: Syracuse University Press. 1988, pág. 31 e pág. 121 .
3.JOCHENS, Jenny. Women in Old Norse Society. Ithaca: Cornell University Press. 1995, pág.65 e pág. 76 .
4.KARRAS, Ruth M. "Concubinage and Slavery in the Viking Age," Scandinavian Studies. 62, 1990, pág. 141-162.
5.ÇELİK, Oğulcan. The representation of homosexuality in old norse literature and law. Kültür Araştırmaları Dergisi, n° 8, 2021, pág. 175- 184.
Referências Online:
LADY, The Viking Answer. Homosexuality in Viking Scandinavia, 2015, Disponível em: http://www.vikinganswerlady.com/gayvik.shtml